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Foto do escritorAndré Geremia Parise

Roda de conversas no GEESP em Petrolina

Apesar dos horrores que esta pandemia trouxe ao mundo, é inegável que trouxe também alguns efeitos colaterais benéficos (idealmente, não deveríamos precisar de uma pandemia para isso!). Um deles é o de impulsionar como nunca, devido à obrigatoriedade de se fazer reuniões, encontros e mesmo eventos de grande porte por meio virtual, o contato de pessoas e mentalidades diferentes que estão separadas geograficamente.


Outro dia (06/05/2021), por exemplo, recebi um gentilíssimo convite do Grupo de Estudos em Ecofisiologia e Estresse de Plantas (GEESP) para participar de um encontro e proferir uma palestra sobre comunicação em plantas. O grupo é sediado no Instituto Federal do Sertão Pernambucano, em Petrolina (PE). Petrolina! Eu, aqui na setentrional Ilha de Santa Catarina, tive a chance de interagir ao vivo com pessoas tão distantes fisicamente de mim. Noutros tempos, isso seria muito improvável. Era comum pesquisadores participarem de eventos científicos quando visitassem pessoalmente outras instituições, portanto normalmente essas reuniões ocorriam quando alguém distante estava de passagem, ou entre pesquisadores da mesma região. Agora, porém, notamos, como humanidade, que é plenamente possível ter esses encontros e trocas de ideias independentemente da distância, ainda que falte o calor dos encontros presenciais.


Cartaz da reunião. As reuniões do GEESP são abertas ao público e anunciada nas páginas do grupo

Pois bem, nesse dia eu falei, de maneira bastante interativa, sobre as pesquisas recentes e não tão recentes sobre o fascinante tema da cognição em plantas. Foi mais ou menos a mesma palestra de algumas semanas atrás, na UNITAU (Taubaté, SP, outro local onde "fui" sem tirar os pés da Ilha!), porém, neste caso, em uma situação mais informal e intimista. Trocamos muitas ideias sobre a comunicação em plantas as potenciais aplicações disso na agricultura. Como sabemos, a região do Vale do Rio São Francisco é um verdadeiro oásis de fruticultura no sertão nordestino e esse grupo estuda maneiras de melhorar as práticas de cultivo na região. Devido ao clima semiárido e intensa radiação solar local, o desafio é grande! Para mim, foi muito interessante porque todos os meus estudos sempre foram voltados para a ciência básica e tive pouco contato com a ciência aplicada. No entanto, esse é um tema importantíssimo e com muitas aplicações potenciais! É por isso que essas trocas de ideias são tão desejáveis.


A comunicação em plantas é uma área de estudo relativamente nova e que tem se mostrado muito promissora. Saber o que as plantas comunicam e como elas fazem isso nos permitirá aprimorar muitas técnicas agriculturais e ajudar a tornar a agricultura verdadeiramente sustentável. Plantas sob diversos estresses liberam no ar e pelas raízes substâncias químicas que comunicam a outras plantas informações sobre esses estresses, o que pode aumentar a sobrevivência e resistência a doenças e estresses abióticos dessas mesmas plantas. Decifrar essa comunicação abre portas para uma agricultura de maior precisão além de, na minha opinião, reiterar a importância de sistemas agroflorestais.


A agroecologia, devido à sua preocupação com manter os "agroecossistemas" saudáveis de um modo dinâmico e natural, potencializa essas interações entre as plantas e torna o sistema sustentável e resistente às intempéries climáticas. Isso é particularmente importante porque, com as mudanças climáticas, eventos extremos se fazem e se farão sentir com muito mais intensidade. Nossos sistemas agroecológicos precisam ser capazes de resistir a isso. Ademais, boa parte das culturas que utilizamos atualmente, devido à forte seleção artificial focada exclusivamente na produtividade, são extremamente frágeis e pouco autônomas, necessitando da ajuda (frequentemente agrotóxica) para conseguirem sobreviver. Essas culturas ficaram menos hábeis para lidar com variações ambientais e isso é um problema grande quando o ambiente está mudando tão rápido e de maneira tão hostil à humanidade.



Os extensos pomares do Vale do São Francisco. A fruticultura é uma atividade econômica importantíssima na região | foto de Mare de Castro

Infelizmente não posso me estender demais neste tópico hoje, porém, se o assunto causou interesse, você pode assistir a reunião que ficou gravada no YouTube. Além disso, sinta-se à vontade para entrar em contato comigo, conversar e trocar artigos científicos sobre o assunto. Eu fui convidado a participar da reunião como "especialista em comunicação em plantas" mas, sinceramente, não me considero especialista em nada! Ainda estou aqui para aprender, mais do que tudo, e toda a contribuição é bem-vinda.


Finalizo agradecendo ao Jonathas Ranver e à professora Ana Rita dos Santos pelo convite para participar dessa reunião com o grupo de estudos, além de todos e todas que participaram da conversa. Além disso, parabenizo o GEESP pela ousadia em abordar abertamente temas como comunicação e cognição em plantas, que ainda são tabus em muitos setores da botânica e agronomia tradicional, mas que certamente trarão abundantes frutos (nos sentidos figurado e literal) com uma agricultura moderna e sustentável. Quem sabe algumas parcerias surgem a partir daqui! Espero também que, passada a pandemia, eu tenha a oportunidade de conhecer o Vale do São Francisco, com suas águas cristalinas e vastos e prolíficos pomares repletos de plantas comunicantes!


A gravação da reunião pode ser acessada pelo seguinte linque: https://www.youtube.com/watch?v=xUW99pec3Vc&ab_channel=GEESPIFSERT%C3%83O


As reuniões do GEESP são abertas ao público e divulgadas nas páginas do grupo, como a do Instagram: https://www.instagram.com/geespif/?hl=pt-br

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